Novo plano de segurança do Facebook pode ser ‘tiro no pé’, segundo especialista
13 de março de 2019De acordo com Ricardo Becker, ênfase à criptografia no armazenamento de dados pode minar geração de anúncios e conteúdos voltados ao perfil de cada usuário da rede social
Artigo produzido por: Ricardo Becker*
O recente anúncio feito por Mark Zuckerberg, fundador e CEO do Facebook, de que a plataforma será alterada para gerar mais segurança nas relações interpessoais e compartilhamento de dados pode ser um “tiro no pé”.
Ricardo Becker, presidente-executivo do Grupo Becker, afirmou, durante evento na última semana, que irá integrar Messenger, WhatsApp e Direct (Instagram) em apenas uma plataforma para conversas.
A troca de mensagens terá foco em interações privadas, criptografia, segurança, interoperabilidade e armazenamento seguro. Segundo Zuckerberg, a ideia é acabar com foco em publicações públicas e dar mais relevância às comunicações privadas criptografadas.
“O que o Zuckerberg anunciou não terá, na minha visão, um resultado positivo. Ele sugeriu implementar criptografia também no armazenamento de dados. Se realmente fizer isso, o modelo atual de negócios do Facebook desaba, pois eles vendem justamente informações mineradas acessando dados dos usuários para gerar anúncios publicitários e conteúdo direcionados ao perfil de interesse e consumo de cada usuário”, adianta Becker.
“Essa ação pode criar uma cadeia de reações negativas com relação ao investimento em publicidade e links patrocinados, fato que também enfraqueceria a gestão financeira do Facebook enquanto empresa. Além disso, implementar criptografia no armazenamento e na comunicação entre usuários não aumenta conformidade com a GDPR – General Data Protection Regulation – e a LGPD – Lei Geral de Proteção de Dados – e aumenta a dificuldade em situações onde a empresa será acionada judicialmente entregar dados em investigações e repasse de dados”, adiciona.
A proposta de mudança surge um ano após o mais polêmico escândalo de violação à privacidade e uso irregular de dados da rede, cujo acesso chegou a mais de 2,6 bilhões de pessoas em 2019.
Em março do ano passado, denúncias mostraram que a empresa Cambridge Analytics, consultoria política contratada pelo staff de Donald Trump, obteve dados sigilosos de mais de 50 milhões de usuários do Facebook e direcionou propaganda sem que os mesmos tivessem autorizado o uso de suas informações. Tal manobra teria ajudado a eleger o presidente dos Estados Unidos em 2016.
Desde então, a empresa sofreu uma série de novas denúncias relativas à segurança. Em razão disso, viu-se pressionada por autoridades, opinião pública e, mesmo mantendo a estabilidade financeira, teve queda nas ações de mercado.
No discurso da última semana, Zuckerberg ainda afirmou que a empresa está disposta a ser banida de países que se recusam a permitir o funcionamento do recurso de segurança, como a China, por exemplo.
“Acredito que ele tenha feito o anúncio apenas como forma de dizer que a empresa está comprometida com a privacidade dos dados de usuários. Para acalmar usuários, para acalmar o mercado. Mas não irá colocar tal ação em prática sem antes construir um novo modelo de negócios, alinhado com a mesma rentabilidade que o Facebook tem hoje, ou ainda maior”, conclui Becker.
*Ricardo Becker, especialista em Continuidade de Negócios e Recuperação de Desastres e CEO do Grupo Becker.