Entrevista com Senador Dário Berger e professor Aldo von Wangenheim sobre sistema de Telemedicina Catarinense
6 de abril de 2020Como medida para aliviar hospitais e centros de saúde com o atendimento de pacientes a distância, o senador Dário Berger (MDB-SC) enviou ofício ao ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, propondo que seja implementado o Sistema Integrado de Telemedicina e Telessaúde (STT), desenvolvido em Santa Catarina pela Universidade Federal (UFSC), para agilizar e acelerar o diagnóstico dos pacientes com Covid-19
Na proposta, o Senador Dário Berger argumenta que isso pode contribuir com o país para superar a pandemia causada pelo novo coronavírus.
Para ele, são necessários diagnósticos cada vez mais rápidos e eficientes para pacientes acometidos por infecções da Covid-19.
Confira a entrevista completa que o senador concedeu ao Crypto ID:
Crypto ID: Senador Dário Berger, qual foi a receptividade do Ministério da Saúde em relação a sua proposta na utilização do Sistema Integrado de Telemedicina e Telessaúde (STT), desenvolvido em Santa Catarina pela Universidade Federal (UFSC), para agilizar e acelerar o diagnóstico dos pacientes com Covid-19?
Encaminhamos a proposta formalmente ao ministério da Saúde no dia 27 de março, no entanto ainda não tivemos um parecer sobre a proposta sugerida.
Entendemos que o ministério tem recebido diversas demandas, e acreditamos que assim que a sugestão for avaliada teremos uma resposta positiva, pois o próprio Ministro, Henrique Mandetta, tem defendido o caráter emergencial do uso da telemedicina.
O sistema desenvolvido em Santa Catarina é referência no Brasil e poderá contribuir justamente para dar agilidade aos diagnósticos e auxiliar o país a superar a pandemia.
Crypto ID: Quais são os protocolos para oficializar o uso do Sistema Integrado de Telemedicina e Telessaúde (STT)?
Senador Dário Berger: O STT é um sistema público, seu desenvolvimento foi realizado ao longo de mais de 15 anos por uma universidade pública e financiado pelo Estado de SC, Organização Pan-Americana de Saúde, Ministério da Saúde, FINEP, CNPq e FAPESC. Em SC todos os processos e protocolos foram oficializados através do comitê da CIB/SC e seu uso está regulamentado.
O sistema está à disposição para ser usado por todos os Estados brasileiros.
Para complementar as informações o Crypto ID entrou em contato com o Professor Aldo von Wangenheim da Universidade Federal de Santa Catarina idealizadora do Sistema Integrado de Telemedicina e Telessaúde (STT) de Santa Catarina.
Crypto ID: Atualmente quantos usuários utilizam o Sistema Integrado de Telemedicina e Telessaúde (STT)?
Professor Aldo: São mais de 55.000 profissionais de Saúde, dentre especialistas e todas as categorias profissionais da Atenção Básica, como técnicos de enfermagem, enfermeiros, dentistas, psicólogos e outros. Destes, aproximadamente 35.000 encontram-se em SC e os restantes estão distribuídos por todos os estados brasileiros, em especial MT, MS, BA e TO.
O STT é utilizado deste atendimento de emergência em Centros de Trauma de grandes hospitais até Unidades Básicas de Saúde. Os profissionais são cadastrados por suas unidades de saúde de referência.
Todos os pacientes podem acessar o sistema. O paciente sem necessidade de realizar cadastro.Pode acessar resultados de exames através do aplicativo Meus Exames ou através do site, usando o QR code ou a chave e senha fornecidos no protocolo de exame que recebeu.
Para atender dúvidas de pacientes, inclusive sobre COVID-19, temos um chat. Aqui o paciente pode também inserir fotos e outros documentos. Da mesma forma, o médico pode responder oferecendo cartilhas com orientações ao paciente.
Crypto ID: O sistema teria capacidade em atender as instituições de saúde e os médicos nacionalmente?
Professor Aldo: Sim; o sistema é todo em nuvem e pode ser escalado livremente. Poderia ser instalado independentemente por Estado ou centralmente em um grande servidor em nuvem.
Para atender a Atenção Básica e realizar Teletriagem, Telediagnóstico e Teleacompanhamento de pacientes no Interior não há necessidade de se instalar nada nos Postos de Saúde ou Policlínicas e o sistema pode estar disponível imediatamente.
O nosso Sistema de Arquivamento e Transmissão de Imagens (PACS) é baseado em um modelo federado de servidores de imagem que permite implantação à distância e, como bônus, fornece a cada hospital onde é instalado, um novo e moderno Sistema de Informações Radiológicas.
Em 15 anos de operação, o STT realizou 9,5 milhões de exames, de Ressonância Magnética até simples ECGs e Teleconsultorias. Todos exames estão disponíveis, online ou near-online no sistema.
Crypto ID: Professor Aldo von Wangenheim quais são os requisitos básicos para que os médicos façam uso do Sistema Integrado de Telemedicina e Telessaúde (STT) de Santa Catarina?
Professor Aldo: O STT é voltado a todos os profissionais de saúde, médicos, gestores de saúde, técnicos, enfermeiros, psicólogos e dentistas com funções e papéis específicos associados a eles nos protocolos de fluxo de trabalho existentes no sistema.
O sistema pode ser acessado do celular ou no computador. Para atuar usando o STT, além do cadastro no sistema, apenas um treinamento curto é necessário. Este existe online no sistema e pode também ser realizado por nós com grandes grupos através de videoconferência.
Crypto ID: Trata-se de uma plataforma de videoconferência e também de prescrições médicas?
Professor Aldo: O STT é muito mais do que isso. Ele foi desenvolvido para otimizar e agilizar o acesso à expertise médica. As principais funcionalidades do sistema são voltadas ao Telediagnóstico e à Teleconsultoria assíncronos: exames médicos diversos e dúvidas de profissionais da Atenção Básica são registrados no sistema e laudados e respondidos por especialistas.
Esse modelo assíncrono nos permitiu, por exemplo, cobrir 100% da demanda de Teledermatologia do Estado de SC com apenas seis especialistas e, mesmo assim, reduzir o tempo de espera por um atendimento dermatológico de 6 meses para 72 horas.
Um Protocolo de Classificação de Risco, especialmente desenvolvido por nós, nos permite priorizar encaminhamentos e, inclusive, acionar remotamente o SAMU da região do paciente em casos de urgência.
O STT possui um modelo de prescrição de Protocolos de Conduta Clínica Acompanhada por Especialista para casos mais complexos, mas onde a indicação é que o paciente seja mantido em sua região de origem, onde o médico da atenção básica recebe orientações de como proceder e acompanhar o paciente e é assessorado à distância por especialistas nossos.
Entendemos que, na atual crise do Coronavírus, este modelo será estrategicamente importante para que possamos manter pacientes sob observação e acompanhamento no Interior, provendo ao mesmo tempo ajuda especializada aos médicos que atuam na linha de frente.
O STT também suporta videoconferências, mas elas são voltadas à interação entre médicos e à formação continuada de profissionais.
Crypto ID: As prescrições são assinadas com os certificados digitais ICP-Brasil? Poderia dar mais detalhes?
Professor Aldo: Sim. Exames, laudos, solicitações de encaminhamento para tratamento fora de domicílio (TFDs) e Autorizações para Procedimentos de Alta Complexidade (APACs) são (a) protocolados digitalmente como, agora, já podem ser (b) assinados digitalmente em nuvem utilizando novo modelo do SERPRO. Isto garante aos nossos processos autenticidade, irrefutabilidade, integridade e temporalidade.
Para garantir a segurança do profissional médico, que não necessita ter consigo o seu token de assinatura e nem inserir este token em computadores inseguros, o processo de assinatura digital ocorre através de assinatura digital em nuvem e pode ser realizado inclusive quando ele provê um laudo de urgência ao celular ou de qualquer cybercafé.
A equipe do STT participa do grupo de trabalho nacional que, neste exato momento, está formalizando o novo Padrão Nacional de Prescrição Digital.
Crypto ID: Em relação aos pacientes, como são identificados? Existe a possibilidade de utilização da biometria facial?
Professor Aldo: O STT integra os dados em um Registro Eletrônico de Saúde. Hoje o paciente é identificado pessoalmente quando é atendido em uma instituição de saúde e recebe um protocolo que lhe dá acesso aos seus exames e outros documentos. Esse protocolo simplifica o acesso e dispensa qualquer outro tipo de identificação.
Internamente utilizamos bases de dados nacionais como o CADSUS, que nos permitem realizar a integração demográfica dos dados dos pacientes e exames.
A possibilidade de se utilizar técnicas de identificação biométrica existe, mas até o momento não houve necessidade de implantá-las.
Crypto ID: As tele consultas são gravadas?
Professor Aldo: Tanto as Teleconsultorias, que muitas vezes se desdobram em um Protocolo de Conduta Clínica Acompanhada, como os Teleatendimentos são registrados na íntegra no sistema, integrados demograficamente e protocolados digitalmente com carimbo de tempo.
Aldo von Wangenheim – Prof. Dr. rer.nat. Aldo von Wangenheim – Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC
e Department of Computer Sciences – INE
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