O X da questão (ou a questão do X): DREX, PIX e o Sistema de Pagamentos Brasileiro.
15 de janeiro de 2024O DREX sistematiza sua operação com base em ativos digitais, utilizando um ambiente de tecnologia de registro distribuído
Por Gabrielle Ribon
Estamos no meio de janeiro de 2024 e uma viralização inusitada já aconteceu no site X (antigo Twitter): um vídeo feito pelo Banco Central do Brasil (BCB) alcançou mais de 1,4 milhões de visualizações. Nele, de uma forma leve, prática e direta, o BCB explica a diferença entre o PIX, sistema de pagamento amplamente utilizado pelos brasileiros, e o DREX, moeda digital em desenvolvimento pelo Banco Central e com previsão para lançamento até o final de 2024.
Em uma rede normalmente movimentada por polêmicas, Big Brother Brasil e memes, surpreende o alcance do vídeo postado por um usuário, elogiando a comunicação do BCB.
Os principais comentários levantaram, além de novos elogios, outros tópicos sobre a criação da moeda digital brasileira: como, em um país como o Brasil, temos um banco central que “dá aula” de inovação em pagamentos para o mundo inteiro? Seria o DREX capaz de substituir os cartórios?
O Sistema de Pagamentos Brasileiro (também conhecido pela sigla SPB) é premiado no mundo todo por suas inovações, principalmente com foco em segurança e eficiência.
Nosso sistema de pagamentos foi impulsionado a ser ágil desde os tempos da hiperinflação das décadas de 80 e 90, cenário em que qualquer demora para liquidar os pagamentos feitos podia ter efeitos financeiros impactantes. No entanto, foi nos últimos 20 anos que o BCB trabalhou intensamente em reestruturações significativas no SPB, principalmente em termos de riscos, segurança e tecnologia.
E essas reestruturações são fáceis de notar no nosso cotidiano. Assim como o PIX trouxe uma revolução na forma de pagar do brasileiro nos últimos anos, a TED e o DOC assumiram essa mesma importância em 2002. O meio de pagamento mais utilizado, até aquele momento, era o cheque, que refletia em um custo alto para todo o sistema bancário para sua alta compensação, além de pouca segurança e praticidade em seu uso.
A transformação na estrutura do SPB, portanto, colhe seus frutos até hoje, como uma árvore genealógica que apresenta novos descendentes. E está pronto para receber seu mais novo desdobramento, o DREX.
O DREX sistematiza a sua operação com base em ativos digitais e contratos inteligentes, utilizando um ambiente de tecnologia de registro distribuído. Ou seja, utiliza a tecnologia blockchain para garantir que uma transação seja concluída quando todas as condições dela sejam cumpridas.
Um exemplo dado no vídeo é a famosa situação de compra de um carro usado. Sempre surge a dúvida de quem deve dar o primeiro passo na transação: é necessário transferir o dinheiro primeiro ou realizar a transferência da documentação? A existência dessa dúvida traz insegurança para a operação, que promete ser resolvida pelo DREX.
Caso a moeda digital seja escolhida para essa transação, a titularidade do carro e o dinheiro são transferidos de forma simultânea; caso uma das pontas (seja a transferência do carro, seja a existência de saldo para o pagamento) apresente algum problema, a operação não é concluída e as partes não sofrem perdas. É um passo revolucionário em termos de riscos com garantias, perdas com fraudes e agilidade das operações.
Da mesma maneira que aconteceu a reestruturação do SPB em 2002, que proporcionou aumento da concorrência, aumento dos participantes do sistema financeiro e uma ampliação relevante dos portifólios de produtos das instituições, que passaram a ter mais segurança e estabilidade para desenvolver novos produtos e serviços, o DREX soluciona riscos que os participantes do SPB precisam conviver há anos e abre um novo leque de oportunidades para inovação.
Caso o BCB consiga apresentar um sistema robusto, seguro e bem integrado, o crédito pode se tornar mais acessível com a diminuição de perdas e riscos, e cabe à imaginação dos integrantes criar serviços e produtos customizados aos clientes, ampliando o acesso ao sistema financeiro.
O Banco Central também aplaca uma dúvida que surge em muitas pessoas que ouvem falar do DREX pela primeira vez: o que vai acontecer com o PIX? Fica claro na comunicação que o PIX e o DREX cumprem papéis bem diferentes no cotidiano dos usuários.
Enquanto o DREX é utilizado em operações que possuem condicionantes, como execução de garantias ou recebimento de bens, o PIX continuará servindo como pagamento instantâneo e imediato de bens e serviços, como, por exemplo, pagar um restaurante ou fazer uma compra em uma loja.
Quanto à existência dos cartórios, o DREX ainda não promete essa mudança radical. É evidente que, com a existência dos smart contracts, a relação dos usuários com o cartório já será diferente, pois não é necessário autenticações ou reconhecimentos de firma em diversos casos. No entanto, os cartórios ainda são necessários para verificar a existência de bens imóveis e outras atividades.
Como a necessidade é um grande motor de inovações, o DREX traz outras necessidades que impulsionam, inclusive, a reinvenção dos cartórios, que já se adaptam a rotinas com menos burocracias, estudam a implementação de redes blockchain em seu dia a dia. Assim como o TED, o cheque e o cartão de crédito não morreram, mas reinventaram seu uso e se adaptaram à existência do PIX, os cartórios e os contratos também buscarão formas de se adaptar e prestar novos serviços para a sociedade em um futuro muito próximo.
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