Novo presidente do ITI, Carlos Roberto Fortner, concede sua primeira entrevista ao Crypto ID
12 de junho de 2020Carlos Roberto Fortner, presidente do Instituto Nacional de Tecnologia da Informação – ITI, nomeado em 3 de junho de 2020 em sua primeira entrevista ao Crypto ID fala sobre como conduzirá a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira, ICP – Brasil
“Cabe a nós todos, ITI, governo, entidades representativas do mercado e sociedade, fomentar a modernização e colocar o Brasil em posição de destaque e protagonismo. Tenho, agora, a oportunidade e o privilégio de contribuir nestas mudanças.”
Fortner é engenheiro civil, da Escola Politécnica da USP, atuou na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos como presidente e vice-presidente de Finanças.
Antes, foi diretor de Gestão e Tecnologia da Informação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Subsecretário de Planejamento, Orçamento e Administração no Ministério da Ciência Tecnologia Inovações e Comunicações.
Crypto ID: A sua chegada como novo presidente, sem dúvida é uma expectativa muito grande para a indústria que trabalha com a ICP-Brasil. Sua formação em engenharia e sua trajetória profissional já deixa algumas pistas de como será sua atuação, mas o senhor poderia nos dar sua perspectiva de como pretende conduzir a ICP-Brasil?
Fortner: Por onde passei, tanto na vida pública quanto, antes, na iniciativa privada, sempre tive como princípios transparência, diálogo, credibilidade, equilíbrio. No ITI não será diferente.
Ainda que sejam cenários e mercados completamente diferentes, cito os resultados que trouxemos aos Correios, onde, além da nossa gestão ter resgatado a reputação da empresa, elevamos a qualidade a índices superiores aos dos mais importantes players mundiais do setor, tirando a empresa de prejuízo bilionário e entregando lucro. Tudo isso com respeito aos 105 mil empregados, cujo engajamento permitiu obter resultados positivos. Nossa gestão, sempre foi pautada em muito diálogo, respeito e transparência, e foi a primeira a interromper um ciclo histórico de 24 anos de greve geral na data base do acordo coletivo.
À frente do ITI, vejo como meu principal desafio fomentar a equipe a entregar, com rapidez, projetos que permitam avançar e modernizar o Brasil sem comprometer a confiabilidade e a segurança da certificação digital. Em síntese, afirmo que o desafio é ampliar o acesso a uma cidadania digital confiável e que goze de credibilidade, e, se possível colocar o país como protagonista.
A pandemia criou boas oportunidades de entregas, que a meu ver vieram para ficar, como o atestado médico digital. E se pensarmos nos mais de 2.500 serviços públicos que podem ser digitalizados de maneira confiável, eficiente, transparente, integrada e inteligente, percebe-se um potencial gigantesco de economia direta para o contribuinte.
Não podemos ter medo da mudança. Se precisamos e queremos ampliar a base de usuários, precisamos mostrar valor digital para a sociedade. Daí a importância da participação ativa e integrada da rede, inclusive na desmistificação do atraso histórico que o Brasil precisa superar.
Crypto ID: Como pretende conduzir a interação do ITI com o mercado que compõe a ICP-Brasil? Pretende atender as empresas individualmente conforme solicitação de audiência, fará uma convocação coletiva ou fará apenas a aproximação com os entes da ICP-Brasil na próxima reunião já agendada do Comitê Gestor da ICP-Brasil?
Fortner: Sempre me pauto pelo diálogo, respeito, ética e transparência. É natural e legítimo que o mercado defenda seus interesses e lute pela manutenção do seu status quo. Ao mesmo tempo, o Brasil anseia por modernização e democratização do acesso a serviços públicos mais ágeis, baratos e eficientes. Não podemos continuar no modelo de Brasil digital das últimas décadas, e se queremos um país melhor, parafraseando Gandhi, cada um de nós terá de ser a mudança que queremos ver no Brasil.
Atenderei, na medida da disponibilidade de agenda, a todos igualmente, isso é antes de qualquer coisa, minha obrigação como gestor público. Para dar uma pista do meu perfil de gestão, ainda que tenha assumido a direção há poucos dias e em meio ao contexto de isolamento social provocado pela pandemia, já realizamos pelo menos cinco reuniões, tanto virtuais quanto presenciais com diversos representantes do mercado, além dos encontros de trabalho com os colaboradores do ITI e com a Secretaria de Governo Digital. Fui nomeado numa quarta-feira, e na quinta pela manhã já estava trabalhando no ITI.
O mercado vai rapidamente perceber que eu procuro entender todos os lados antes de formar minha posição, sempre buscando consenso e equilíbrio.
Crypto ID: O senhor pretende trabalhar a divulgação do espectro de atuação da ICP-Brasil junto aos três poderes e sociedade em geral, de forma que a atuação da ICP-Brasil seja ampliada? Teremos alteração na equipe técnica do ITI e no Comitê Gestor da ICP-Brasil?
Fortner: Entendo a ICP-Brasil como uma das partes do ecossistema no qual o ITI se insere. Os projetos que encontrei iniciados no ITI são todos bons para o Brasil e para o cidadão; devem, portanto, ter continuidade. Dentro deste cenário, a expansão e democratização do acesso à certificação digital é parte de uma política pública que considero inclusive como cidadão, bastante correta. E mais: está alinhadíssima às diretrizes da Secretaria de Governo Digital. Sempre me perguntei por que o Brasil, com todo o potencial, criatividade e talentos que têm, não oferece acesso mais democratizado aos serviços digitais. Cabe a nós todos, ITI, governo, entidades representativas do mercado e sociedade, fomentar a modernização e colocar o Brasil em posição de destaque e protagonismo. Tenho, agora, a oportunidade e o privilégio de contribuir nestas mudanças.
Tudo isso passa também, evidentemente, pela divulgação do espectro de atuação da ICP-Brasil.
Ainda que pequenas alterações pontuais sempre sejam esperadas em qualquer mudança de gestão, não vejo necessidade de movimentações na equipe técnica do ITI. Pelo contrário, de todas as entidades pelas quais passei nos meus 11 anos de vida pública, fui positivamente surpreendido ao encontrar aqui um corpo técnico de altíssimo nível, super comprometido e engajado. Considero uma satisfação poder estar cercado de pessoas inteligentes e com vontade de entregar produtos e serviços que melhorem a vida do cidadão.
Quanto ao Comitê Gestor da ICP-Brasil, tampouco entendo necessárias mudanças.
Crypto ID: Para finalizar, a indústria de certificação digital vem passando por muitas alterações em seus procedimentos, mas se mantém sob a mesma legislação aprovada em 2001. O senhor vai trabalhar para a aprovação de uma lei mais atualizada em relação aplicação de tecnologia e ampliação das competências da ICP-Brasil e ITI?
Fortner: Sem dúvidas, a indústria de certificação digital vem passando e vai passar por mais mudanças ainda. Há que necessariamente ocorrer modernização se quisermos, e tenho certeza que todos queremos, um Brasil melhor. A tecnologia avança a cada dia mais rápido. O que valia ontem já é obsoleto hoje. Costumo dizer que quem vive de passado é museu. Se queremos um Brasil mais acessível, se queremos um país que pese menos no bolso do contribuinte e que facilite a vida do cidadão, do empreendedor, da sociedade em geral, necessariamente passaremos por modernização. E quando falo em modernização, não penso apenas na legislação, penso no ecossistema como um todo: novas tecnologias, novas abordagens, e por que não dizer, disrupção.
Se nós queremos que a pessoa física e a pessoa jurídica tenham facilidade e rapidez para se transformar em pessoas digitais – e essa é uma meta de governo – temos que pensar diferente. Temos, como ecossistema, a obrigação de nos reinventar.
Os projetos que encontrei no ITI estão direcionados a isso. Caberá à minha gestão criar o ambiente para avançar neste sentido.
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