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6 de dezembro de 2022

Qualquer ação que visa otimizar os resultados produtivos e reduzir os custos operacionais sempre são bem-vindos

Por Werter Padilha

Werter Padilha, CEO da Taggen Industries e Services e Conselheiro da ABES

Tem aumentado o número de pecuaristas brasileiros interessados e dispostos a investir em tecnologias associadas ao que denominamos de pecuária de precisão. 

Qualquer ação que visa otimizar os resultados produtivos e reduzir os custos operacionais sempre são bem-vindos.

Para isso, pesquisadores têm buscado nas últimas décadas alcançar êxito por meio de diferentes tecnologias de sensoriamento, rastreabilidade, controle e automação.

Mas, atualmente, o agronegócio precisa muito mais que apenas monitoramento. É cada vez mais relevante garantir a excelência e responder qualquer questionamento em relação à origem da produção.

Na COP 28, 28ª Conferências das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, realizada em Dubai, um programa de identificação individual e a rastreabilidade do gado foi apresentado pelo governo do Pará, baseado na união entre governo estadual e empresas em busca de transparência e integridade de toda a cadeia produtiva, e garantia de respeito às regras sanitárias, fundiárias e socioambientais, contribuindo para combater o desmatamento.

A JBS, grande player global integra este programa do Pará e anunciou investimentos. Já a Marfrig, outra potência desse mercado, também noticiou que aportará R$ 100 milhões em programas de rastreabilidade individual do rebanho bovino.

Outra iniciativa em andamento é liderada pela unidade Embrapa Pecuária Sudeste, de São Carlos (SP), e foca o rastreamento em tempo real dos animais indoor e nos piquetes outdoor. Essa ação já está na fase de testes e sendo apresentada a grupos de pecuaristas convidados.

Tudo isso porque a rastreabilidade desempenha um papel fundamental na garantia da qualidade e segurança dos produtos de origem animal, uma exigência dos mercados brasileiro e internacional.

Ferramentas e soluções tecnológicas que permitam monitorar em tempo real o desempenho dos animais, identificando problemas precocemente e tomando medidas para corrigi-los já são a muito esperadas pelos pecuaristas.

Com isso, é possível aumentar a produtividade da fazenda, melhorar a qualidade do leite e carne produzidos. A busca de respostas mais precisas a serem dadas ao mercado consumidor urge. 

Como garantir que o produto que chega às gôndolas brasileiras ou destinado à exportação esteja isento de passivo socioambiental? Como garantir que a carne não foi produzida, em todo o seu ciclo de vida, em terras com litígios ambientais ou de desmate ilegal?  Como assegurar que a mão de obra responsável pelo manejo gado não sofreu com trabalho escravo ou infantil? 

Para responder estas perguntas assertivamente, os pecuaristas precisam das garantias que as tecnologias de monitoramento e de rastreamento animal podem dar. Sem isso, não há futuro comercial para estes rebanhos.

Do pasto à mesa

Não vejo como responder a estas demandas sem o uso da internet das coisas (IoT) que permite ser cada vez mais eficiente e preciso, acompanhando a vida do bezerro desde o seu nascimento até sua fase adulta e abate.

É fundamental monitorar todos os estágios do processo de produção e distribuição, desde a fazenda até a mesa do consumidor, garantindo que o gado não traz consigo os passivos ambientes e sociais mencionados.

Assim, sensores nos animais e dispositivos conectados via cloud são fundamentais para coletar dados em tempo real sobre vários parâmetros: habitat da criação, bem-estar animal, seu crescimento e peso, cuidados no transporte e, até mesmo, condições de armazenamento da carne.

As informações devem estar registradas em bancos de dados, disponibilizadas de forma certificada e acessível a todas as partes envolvidas na cadeia produtiva, proporcionando maior transparência e confiabilidade.

A pecuária de precisão tem muito a se beneficiar das tecnologias de internet das coisas, porque são recursos que permitem que os proprietários de fazendas monitorem e gerenciem melhor seus rebanhos.

Entretanto, um dos desafios da Internet das Coisas (IoT) na pecuária é garantir o funcionamento na realidade das condições do campo, seja em ambientes indoor como também nos ambientes abertos (outdoor), garantindo conectividade local e cloud, baixo custo de implementação e grande facilidade de instalação e uso.

Rastreabilidade com beacons

Para este desafio de sistema de monitoramento, o dispositivo indicado é o beacon, junto com gateways e plataforma de monitoramento. 

Os beacons operam sob a tecnologia Bluetooth low energy (BLE) que tem se disseminado cada vez mais graças a pluralização dos smartphones e inúmeros devices. 

Beacons muito bem construídos, robustos para suportar a dureza do ambiente rural, com baixo consumo de energia, garantindo sua longevidade operacional, e com inteligência sistêmica para inferir e adaptar-se ao ambiente em que está.  

Gateways que permitam captar e transmitir as informações a plataformas locais e em nuvem, independentemente da geografia onde as soluções sejam aplicadas.  Para completar, uma plataforma de software robusta e muito inteligente para dar as respostas tão desejadas.

Identificar o animal desde o seu nascimento, fornecer a localização deste em tempo real e seu histórico durante todas as suas fases produtivas, responderá as primeiras e mais importantes perguntas: onde está ou esteve o animal? Os locais por onde ele passou estão isentos dos passivos ambientais e sociais?

Muito trabalho manual, atualmente, é praticado, sem garantias de confiabilidade e exposto a possibilidades de erros.

A meta é garantir os resultados almejados, que podem ser fortemente ampliados com integrações a sensores que meçam o consumo de água, de alimentação, além de incluir no projeto a conectividade com outros serviços e soluções de mercado. Um verdadeiro ganha-ganha para todos os envolvidos.

Um projeto deste nível é sucesso certo quando o trabalho é realizado em conjunto por zootecnistas, veterinários, produtores e gestores com a equipe de especialistas em tecnologia. Afinal, a pecuária de precisão é uma área de conhecimento multidisciplinar.

Garantia de origem e de qualidade

A participação do agronegócio no total do PIB brasileiro ficou em 24,8% em 2022 e a meta é ampliar esta representatividade, estabelecendo um ritmo constante de crescimento nos próximos anos.

Além disso, a pecuária brasileira já é considerada uma das mais produtivas em todo o mundo e o país é um dos maiores exportadores de carne bovina do planeta.

Por isso, o desenvolvimento de um sistema de identificação e rastreamento animal de baixo custo com tecnologia genuinamente brasileira ajudará o produtor rural a melhorar o seu planejamento, manejo, monitoramento do gado e gerenciamento das atividades estratégicas da propriedade, fornecendo dados que elevarão a pecuária nacional a um novo patamar.

Entre os dados estão: identificação, localização e rastreabilidade para que se maximize os resultados operacionais, proporcionando mais eficiência e redução de custos.

A rastreabilidade das condições de criação desta cabeça de gado vai agregar valor à produção de carne brasileira, pois o criador poderá armazenar uma série de dados, garantindo que o seu produto foi criado nas condições sanitárias e de manejo indicadas por órgãos brasileiros e internacionais.

A partir dessas informações registradas, será possível fornecer aos consumidores dados detalhados sobre a origem do gado, como local da criação, alimentação fornecida e cuidados específicos.

Essa transparência contribuirá para o fortalecimento da confiança dos consumidores na qualidade e segurança dos produtos de origem animal do Brasil.

A rastreabilidade é uma crescente necessidade para exportação, uma vez que países compradores têm apresentados exigências mais rigorosas quanto à segurança alimentar.

Ao oferecer carne com rastreabilidade comprovada, o Brasil ganha vantagem competitiva nesse mercado globalizado e reforça sua posição como um produtor confiável, socialmente e ambientalmente responsável. 

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