Com tantas transformações ocorrendo pelo mundo, quais as apostas
que devemos fazer hoje pensando no amanhã?
Por Ricardo Cancela
Já havia comentado em outro artigo que nos próximos 20 anos o mundo vai mudar mais que os últimos 200 anos. Vamos ver?
Em 2012, a plataforma de fotografias Instagram foi vendida por um bilhão de dólares. Esta possuía na época “apenas” 13 funcionários fixos e em torno de 30 milhões de usuários.
Nesta mesma época, estimativas apontaram que 18 mil empresas desapareceram e 250 mil empregos em tempo integral sumiram do mapa, apenas nos Estados Unidos.
Em 2013, mais de 179 mil unidades de robôs industriais foram vendidas. Um novo recorde! A popularização é resultado do preço em queda e das novas habilidades adquiridas.
Neste mesmo ano a Google comprou oito empresas de robótica avançadas, dentre elas a Boston Dynamics destinada a aplicações militares.
Em 2014 o ganhador do Prêmio Nobel Michael Spence destacou “os empregos que envolvem funções repetitivas vão desaparecer rapidamente nos próximos anos”.
Neste período tivemos uma prévia do futuro das fábricas através da unidade de Leipzig da BMW com seus mil robôs. Os “poucos” funcionários acompanham tudo pelos computadores.
De acordo com a consultoria McKinsey, o preço dos robôs vem caindo 10% ao ano nas últimas décadas podendo custar metade do valor atual até 2025, sem mencionar que a produtividade deles está aumentando exponencialmente.
Já estimativas internacionais apontam que 25% de todas as funções na indústria nos países mais ricos deverão ser substituídas por tecnologias de automação até 2025. Imaginem isso globalmente!
Simultaneamente, empresas como Philips, Apple, GE, Ford e Whirlpool estão retornando aos seus países de origem, muito devido a pressões politicas, à crise econômica mundial e favorecido pelo aumento dos custos trabalhistas na China em quase 190% na ultima década.
Em contrapartida, precisamos entender que estas empresas que estão retornando já estarão dentro do escopo da indústria 4.0, totalmente automatizadas, com cada vez menos postos de trabalho.
Estamos iniciando uma grande mudança na manufatura como aquela provocada pela Revolução Industrial, de acordo com Erik Brynjolfsson, professor do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT).
Os sinais estão claros! Precisamos dar a atenção e nos prepararmos para estas transformações.
Em 2017, John Chambers, CEO da Cisco por 20 anos, que já foi a mais valiosa empresa do mundo no final da década de 90, mencionou em palestras que “40% das empresas vão falir nos próximos 10 anos”.
Percebam que até 2020 teremos 50 bilhões de aparelhos conectados e 500 bilhões em 2030, sendo boa parte ligado à Internet das Coisas (IoT), o que provocará uma reviravolta gigantesca, onde empresas acomodadas e sem inovação tenderão a desaparecer.
Já Warren Buffett – bilionário americano – destacou neste mesmo ano durante o encontro anual da Berkshire Hathaway que na visão dele o varejo que conhecemos está prestes a morrer.
Fortificando esta observação do bilionário, o Credit Suisse estimou que 8.600 lojas físicas devam fechar apenas nos Estados Unidos entre este ano e ano que vem. Vejam que só neste ano de 2017, 3.200 lojas físicas já foram fechadas.
Em volta de emoção, Rahul Gupta (CEO da Nokia) anunciou a compra da Nokia pela Microsoft e terminou seu discurso dizendo isso: “Nós não fizemos nada de errado, mas de alguma forma, perdemos”. O mundo mudou e estará mudando ainda mais!
Também em 2017, o banco americano JPMorgan anunciou que atividades que normalmente consumiam 360 mil horas de advogados por ano agora são resolvidos em segundos por robôs.
Do outro lado do mundo, a Foundation for Young Australians (FYA) apontou que 60% dos jovens hoje em dia estão aprendendo profissões que vão deixar de existir.
Em paralelo foi divulgado no Reino Unido relatório elaborado pela Oxford, Carl Benedikt Frey e Michael Osborne que um terço de todos os empregos no Reino Unido se tornará obsoleto, sendo substituídos pela robótica nos próximos 20 anos.
Com base nestas afirmações será que teremos condições de continuarmos trabalhando como empregados ou será que devemos partir para abrir nossas empresas? Economia criativa é um caminho? E nossos filhos estão no caminho correto em suas formações? Será que teremos condições de ajuda-los em suas decisões?
Para elucidar e auxiliar em possíveis apostas, trago algumas tendências, inclusive apontadas pelo Fórum Econômico Mundial, como balizadoras do novo mercado visando escolhermos novas profissões, novos segmentos ou mesmo linhas para empoderarmos. São apenas dicas relativas de um novo universo que se abre.
O campo da “computação quântica” é uma excelente aposta. O objetivo é a criação de computadores cada vez mais rápidos, principalmente porque o silício, principal componente utilizado na construção dos processadores que utilizamos diariamente, já está chegando aos limites físicos.
Somente nas últimas três décadas, um terço dos recursos naturais da terra foi consumido, assim o desenvolvimento de “comunidades sustentáveis” é um universo vasto e potencial campo para se apostar, principalmente nas áreas de uso da água, do lixo e da energia.
No campo da medicina, a computação cognitiva logo estará ajudando no diagnóstico de doenças e robôs aos poucos realizando procedimentos cirúrgicos, assim, muitos profissionais precisarão repensar suas carreiras e um dos campos que se apresenta é o desenvolvimento das “vacinas genéticas”, que são feitas com partes de DNA do agente que se quer combater, fazendo com que o nosso organismo produza imunidade contra essas substâncias, criando assim uma memória imunológica.
No campo da engenharia, a maior aposta está no campo dos “carros sustentáveis”, motivado atualmente com carros híbridos e elétricos e, em breve, carros com células de hidrogênio. A BMW planeja eletrificar toda a sua linha de veículos dentro de dez anos, a Toyota vai deixar de fabricar veículos que funcionem apenas com combustíveis fósseis até 2050, e a Tesla Motors, fabricante americana de carros elétricos acabou de abrir fábrica na Europa e pretende vender por ano meio milhão de carros.
Conforme apontado pela ONU a população mundial vai crescer 53% e chegará a 11,2 bilhões em 2100, desta forma, o campo da “agricultura de precisão” é uma grande oportunidade. Esta prática agrícola utiliza-se de tecnologia de informação baseada no princípio da variabilidade do solo e clima por intermédio de sensores, robôs, drones, colheitadeiras autônomas e outras mais, para produzir mais, com menos recursos e espaço.
Um dos melhores campos para apostar está nos trabalhos relacionados à “fotossíntese artificial”, cujo objetivo é imitar a fotossíntese natural das plantas, com o objetivo de converter dióxido de carbono e água em carboidratos e em oxigênio, utilizando a luz do Sol, criando assim um sistema que pode limpar o ar poluído e produzir energia.
Na área de tecnologia da informação temos um campo vasto e como um dos carros chefes “deep learning”, que está permitindo que a inteligência artificial evolua a passos largos, onde as máquinas inspiradas neste modelo conseguem aprender abstrações complexas dos dados através de um processo de aprendizagem muito similar ao que ocorre no cérebro humano – sobretudo no córtex visual.
No campo de sustentabilidade temos “água a partir do ar”, uma grande aposta e um processo que está cada vez mais barato e escalável, onde a transformação física ocorre sem a ajuda de nenhuma química. Esta “magia” atende pelo nome de condensação térmica do vapor d’água em suspensão, um princípio elementar. É como se a máquina reproduzisse uma nuvem e a “espremesse” para tirar quase toda a água concentrada em forma de vapor.
Novamente no campo da medicina temos a “biópsia líquida”, um campo que se abre e que permitirá através de um simples teste de sangue realizar o diagnóstico do câncer. A chamada biópsia líquida é simples e indolor. Ela é capaz de identificar fragmentos de DNA de tumores na corrente sanguínea e indicar sua presença antes mesmo destes se tornarem visíveis em análises convencionais, numa fase em que podem ser bloqueados.
No campo da alimentação uma nova frente através da eletricidade. Cientistas finlandeses conseguiram este feito inédito criando “comida a partir da eletricidade”. A solução, contudo, ainda é inicial, porém acreditam que em uma década já estará em escala industrial. Não são alimentos como frutas ou legumes, mas um tipo de pó rico em proteínas e carboidratos, o que já é considerado um grande avanço.
Esta é uma das pesquisas que podem acabar com a fome no mundo, já que hoje, uma em cada nove pessoas sofrem com este mal, segundo a ONU.
Espero ter ajudado trazendo informações que estão em pauta no mundo todo e que vão balizar nossos avanços e abrir novas frentes de pesquisa e de desenvolvimento para quem deseja ingressar neste novo mundo.
*Ricardo Cancela CVO | Entrepreneur | Keynote Speaker | Columnist | Enthusiast for innovation GBDN – Global Business Development Network