O caminho para a utilização do 5G na saúde é sinuoso, esburacado e, não raras exceções, não é nem pavimentado
O Brasil começou sua caminhada rumo ao 5G, a nova geração da internet móvel, que vai permitir a troca de informações e dados de forma muito mais rápida, com uma latência muito baixa e uma velocidade até 100 vezes superior ao 4G.
O primeiro passo foi dado, em julho deste ano, com o lançamento da tecnologia em Brasília (DF), e já temos mais quatro capitais, incluindo São Paulo, com o 5G em operação de forma parcial.
A internet móvel de quinta geração vai revolucionar diversos segmentos, como o agronegócio, indústrias, telecomunicações e, claro, o setor da saúde – possibilitando diagnósticos e acompanhamentos cada vez mais assertivos, integrados e rápidos.
Assim como em outros setores, a integração de devices gerando infinitos dados em tempo real, será o grande salto que impactará sobremaneira essas indústrias.
A conectividade desses devices é conhecida de modo geral como IoT (Internet of Things – Internet das Coisas) e sua utilização voltada a área médica é chamada de IoMT (Internet of Medical Things).
A capacidade de monitorar esses IoMT em tempo real, coletando e cruzando milhões de dados, trará um salto de qualidade na saúde da população tão grande quanto as maiores invenções da medicina.
Isso acontecerá pois passa remos a entender a evolução da saúde das pessoas de uma forma mais ampla.
Esse é o sonho de todos que querem levar a medicina atual, que foca muito mais em tratar doenças, para uma “medicina 4.0”, na qual passaremos a cuidar da saúde da população.
Aliar essa capacidade de cruzar dados médicos com outras informações que poderão ser coletadas no dia a dia das pessoas, tais como alimentação, esportes, estresse e sono, vai permitir traçar e prever riscos de saúde de forma muito mais preditiva e assertiva.
Outro passo importante será dado com a democratização do mapeamento genético.
Testes genéticos de baixo custo, aliados a essa montanha de dados coletados, poderão garantir uma vida muito mais longa e saudável para toda a população.
Contudo, na prática, a realidade brasileira distorce a teoria. O caminho para a utilização do 5G na saúde é sinuoso, esburacado e, não raras exceções, não é nem pavimentado.
A tecnologia 5G depende de muitos aspectos técnicos, como datas centers regionais robustos para suportar a quantidade de informações trocadas.
Mas existe um que talvez seja o mais relevante de todos: ampla cobertura de sinal.
Ao contrário de outros setores, a saúde é distribuída pelo Brasil, alcançando regiões remotas e de infraestrutura precária. A ausência de uma ampla cobertura de sinal não democratiza o sonho do 5G.
Para se ter uma ideia, segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), das 5.570 cidades brasileiras, apenas 667 cidades possuem mais de 80% de sua área coberta por 4G, o que é equivalente a cerca de 12% do total.
Se formos para a parte de baixo da tabela, 3.522 possuem menos de 50% de sua área com cobertura 4G. Isso representa 63% dos municípios do Brasil.
É importante destacar, também, que em muitos desses lugares, a principal referência médica são os hospitais filantrópicos, que, além da falta de cobertura, enfrentam o abandono.
E essas instituições são responsáveis por atender 60% da demanda do Sistema Único de Saúde (SUS) em todo o País.
Sem verbas, esses locais deixam de ter sistemas tecnológicos que permitam mais eficiência e qualidade de atendimento a pacientes, bem como de suporte a médicos, enfermeiros, gestores etc.
Durante o momento mais crítico da pandemia, 420 hospitais filantrópicos estavam na iminência de entrar em protocolo de catástrofe, por falta de kit intubação.
As Santas Casas não conseguiam comprar os kits, ou por causa do preço ou porque não encontravam o produto.
Um dos motivos era a falta de soluções tecnológicas que permitissem um processo de compra direta, que envolvesse logística internacional, sourcing e gestão de fornecedores. Era preciso fazer tudo à mão.
Para viabilizar o abastecimento de hospitais coligados à Confederação das Santas Casas de Misericórdia, Hospitais e Entidades Filantrópicas (CMB), de forma rápida, eficiente e com o melhor custo-benefício, fizemos uma parceria com a entidade, em que estruturamos a importação de lotes de kit intubação, realizada em conjunto e de forma inédita pelo setor, com empresas indianas.
Os produtos abasteceram os hospitais que, a partir de então, passaram a realizar as compras diretamente dos fornecedores daquele e de outros países, por meio de nossa platafor ma digital. Essa foi uma importante cooperação, em um momento de enorme pressão sobre as unidades hospitalares.
Já para possibilitar o avanço do 5G pelo país afora, o grande desafio será o Poder Público conseguir, através do modelo de licitação das frequências leiloadas no ano passado, garantir o investimento em infraestrutura para avançar com programas para democratizar o acesso à internet de altíssima velocidade e baixa latência. Será um longo e árduo caminho a percorrer.
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