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A verdadeira inovação disruptiva nos escritórios contábeis

A verdadeira inovação disruptiva nos escritórios contábeis

25 de janeiro de 2016

Por Roberto Dias Duarte (*)

Roberto Dias Duarte

Roberto Dias Duarte

Em artigo recém-publicado, mostrei que a contabilidade on-line não é, conforme a definição científica do termo, uma inovação disruptiva. Afinal, um dos autores dessa teoria, o professor Clayton M. Christensen, da Harvard Business School, deixa claro que só há disrupção quando a inovação no produto ou serviço cria um novo mercado e desestabiliza os concorrentes que antes o dominavam. Ou seja, uma oferta mais simples e barata que consegue atender um público antes sem acesso a este mercado.

Isso ocorre porque as empresas tradicionais tendem a se concentrar em melhorar os seus produtos e serviços para atender clientes mais exigentes – e geralmente mais rentáveis. Neste processo, as necessidades de alguns segmentos de mercado são amplamente atendidas e as demandas de outros, simplesmente ignoradas. Em outras palavras, as inovações disruptivas são possíveis porque as empresas tradicionais ignoram dois tipos de mercado: o de baixo valor (low-end) e os novos clientes.

A fórmula para a criação de uma inovação disruptiva é simples: identifique quais tarefas os clientes precisam fazer; segmente-os por tarefas (não por produtos, tamanho, ou qualquer outra característica demográfica); desenvolva soluções básicas, de baixo custo, que permitam sua realização.

Sempre tenha em mente: inovações disruptivas necessariamente criam novos mercados e reestruturam os já existentes. Então, será que está ocorrendo alguma inovação deste tipo no mercado de serviços contábeis? A resposta é sim!

Escritórios tradicionais ofertam, com excelência, consultorias financeira e de custos a seus clientes. Poucas são as empresas que podem pagar por esse tipo de atendimento especializado. A maioria absoluta do mercado sequer poderia arcar com poucas horas de um consultor júnior, quanto mais um serviço contínuo de orientação nestes setores.

Recentemente, novas tecnologias estão pavimentando o caminho para uma verdadeira disrupção. Imagine se uma pequena empresa de serviços pudesse utilizar um sistema em nuvem para registrar suas contas a pagar e a receber. E que, periodicamente, pudesse importar o extrato bancário para o sistema, conciliando com o previsto o que foi de fato pago e recebido?

O benefício imediato seria simples: atrasos em pagamentos e recebimentos se reduziriam. Esquecimentos, idem. Mas, seria possível também fazer algo nunca antes imaginado por essa pequena empresa: analisar seu futuro financeiro! Fazer simulações hoje para encontrar soluções para problemas que aconteceriam amanhã!

E se esse sistema fosse integrado à contabilidade, apropriando cada transação nas contas, clientes e centros de custo corretos? O que aconteceria? O resultado mais óbvio: ganho de produtividade para a escrituração dos lançamentos contábeis. Mas isso está longe de ser uma inovação disruptiva.

Contudo, e se o empreendedor recebesse relatórios periódicos com os resultados e custos, análises práticas sobre receitas, rentabilidade e custo por cliente, projeto, produto e equipe?

Em resumo, o fornecimento de consultoria financeira por meio de canais eletrônicos, integrando as tecnologias é, sem dúvida, uma disrupção, pois fornece soluções muito baratas ao mercado low-end e atende a um público-alvo pelo qual as consultorias tradicionais não se interessam.

Muitos alegam que esse mercado não existe. Que as pequenas empresas não querem saber de gestão nem de contabilidade. Tampouco desejam pagar por isso. A estes sugiro que realizem pesquisas quantitativas e qualitativas. Que visitem empresas e conversem com empreendedores de fato.

Lembro sempre do pensamento de Fernando Dolabela, autor do livro Segredo de Luiza, para quem empreendedor é um insatisfeito que usa seu inconformismo para criar soluções, serviços, produtos. O insatisfeito que só reclama não é empreendedor, é reclamador!

Há muitos reclamadores no Brasil. Em todas as atividades econômicas e profissões. Mas existem milhões de empreendedores de verdade em nosso país. E eles estão, a cada dia, mais bem instruídos e informados.

Em meio a 9 milhões de empresas legalmente constituídas não é possível conceber que todas tenham sido criadas por reclamadores. Essa seria uma visão por demais pessimista do mercado e que contraria dados concretos apontados em pesquisas como a Global Entrepreneurship Monitor (GEM).

Aquele estudo aponta que a taxa total de empreendedores (iniciais e estabelecidos), como percentual da população entre 18 e 64 anos, foi de 34,5%. Ou seja, estima-se que haja cerca de 45 milhões de empreendedores no Brasil. O mesmo levantamento aponta que 16% deles têm educação superior completa. Além disso, 13% dos empreendedores buscaram apoio de órgãos como o Sebrae, dedicados ao desenvolvimento doempreendedorismo. Ora, quase 6 milhões de empreendedores querem apoio aos seus negócios. Este número não pode ser desconsiderado, em especial por profissionais que tenham como objetivo suportar a gestãoempresarial.

Ocorre que o empreendedor ou o gestor não quer mesmo receber relatórios ilegíveis ou codificados no mais rebuscado “contabilês”. Ele deseja informação sobre o seu negócio. Qual projeto dá resultado, qual o maior custo, quem é bom cliente ou dá prejuízo. Entender o que deve fazer para ser mais eficiente, produzir e atender melhor.

Entretanto, a contabilidade, assim como a tecnologia, é meio, não fim. E isso, em hipótese alguma, desmerece a ciência da riqueza. Pelo contrário. O prestador de serviços que ainda não compreendeu sua real missão de servir ao outro, ao invés de satisfazer apenas aos seus anseios, não é digno da atividade que executa. Essa é a verdadeira missão de um profissional de sucesso. E, sem entender quais são os interesses do outro, nada pode ser feito.

Como disse nosso saudoso professor Antonio Lopes de Sá: “Muita gente não sabe efetivamente o que é contabilidade. Porque entende que contabilidade é apenas escrituração. É apenas um balanço que se demonstra, um lucro que se apresenta, esquecendo-se de que isso é apenas informação. E de nada adianta informar se não sabemos o que fazer com a informação. (…) Ou seja, a explicação dos fatos, a interpretação dos acontecimentos compete exatamente ao contador”. E ainda completa afirmado que a prosperidade das empresas está nas mãos dos administradores “assessorados pelos técnicos que competentemente conhecem sob que condições a riqueza se torna próspera. É isso que faz da contabilidade uma ciência!”.

Então, utilizar sistemas financeiros em nuvem integrados aos sistemas contábeis torna-se uma inovação disruptiva se, e somente se, estas tecnologias viabilizam a aplicação da consultoria contábil a baixo custo para mercados ainda não atendidos.

E, novamente voltando ao professor Christensen, para implementar essa inovação disruptiva o empreendedor contábil precisa realizar uma segmentação de mercado por tarefas, identificando quem são os empresários e gestores que realizam análises financeiras e contábeis com alto custo operacional ou precisam realizar (e não o fazem, justamente por inviabilidade de custo).

Recentemente realizei uma pesquisa utilizando a metodologia Net Promoter Score coletando 2.067 respostas de empresas clientes de escritórios contábeis em todas as unidades da Federação.
Dentre as inúmeras informações obtidas, pude constatar exatamente essa demanda por uma atuação mais consultiva por parte dos escritórios contábeis. O fato é que os 33% dos escritórios classificados de forma extremamente positiva pelos seus clientes já atuam assim.

Portanto, cabe aos 67% restantes buscarem maneiras de atender às necessidades de segmentos até então ignorados.

Um caminho bastante interessante é utilizar-se da tecnologia para levar consultoria a 6 milhões de empreendedores que procuram orientação sobre seus negócios. Isso, sim, é inovação disruptiva!

(*) Roberto Dias Duarte é sócio e presidente do Conselho de Administração da NTW Franquia Contábil, primeira deste setor no país.

Fonte: robertodiasduarte.com.br

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