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Passaporte que sinaliza status de infecção do coronavírus avança para apoiar empresas brasileiras na retomada

4 de maio de 2020

Empresas de tecnologia estão desenvolvendo um aplicativo que será usado para administrar o impacto econômico do coronavírus e testado em um público potencial de cerca de 1 milhão de trabalhadores, segundo apuração da Forbes.

Por Angelica Mari- Forbes Insider

 

Atualmente chamado de Passaporte da Saúde, o aplicativo é parte de um conjunto de propostas do setor de TI para o enfrentamento à Covid-19.

A iniciativa vem de encontro a declarações feitas pelo ministro Paulo Guedes (Economia) no começo deste mês, que sugeriu que, para enfrentar os efeitos econômicos do coronavírus, o país utilizaria uma ferramenta como um passaporte, em combinação com testes.

O aplicativo será primeiramente utilizado pelas próprias empresas de tecnologia da informação e comunicações, setores considerados essenciais para o funcionamento da economia em meio à crise de saúde pública. Porém, a ideia é que, posteriormente, trabalhadores de todos os setores utilizem o app para sinalizar seu status quanto à doença.

Dr. Sergio Paulo Gallindo – Presidente da Brasscom

“Essa é uma iniciativa voltada ao planejamento de saída do confinamento, do isolamento social, quando for o caso, para ajudar as empresas a fazerem essa retomada de maneira organizada”, diz Sérgio Paulo Gallindo, presidente executivo da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom).

“A tese é [fazer com] que as empresas possam, de alguma maneira, auxiliar no processo de testagem dos doentes e fazer várias testagens para determinar quais dos seus empregados já estão em condições de voltar ao trabalho”, acrescenta.

AVANÇOS

O passaporte será alimentado por um data lake, uma base de dados advinda dos laboratórios que testarão os colaboradores de forma recorrente, segundo Gallindo.

O sistema então permitirá que empresas conheçam o estado de saúde de seus funcionários, e tomem decisões como manutenção de políticas de trabalho remoto com base na amostragem de suas próprias populações.

A classificação feita através do passaporte tem três níveis.

O status branco é o das pessoas que pertencem ao grupo de risco, que devem seguir a recomendação de distanciamento social e estão entre as últimas a retornarem às atividades.

Existem duas outras classificações, segundo Gallindo: o status vermelho, que se refere ao paciente que foi infectado e está em processo de recuperação, e o azul, atribuído aos pacientes que recebem alta médica e têm a imunidade comprovada através de testes.

Brasscom não informa quais são as empresas que estão diretamente envolvidas no desenvolvimento do passaporte, porém os membros da associação incluem a IBMMicrosoftTotvs e BRQ, entre outras.

Apesar de não divulgar um cronograma para a conclusão do desenvolvimento da ferramenta, Gallindo diz que o processo começou há alguns dias e já teve “grandes avanços”.

Na primeira onda da implementação, a base de dados nos bastidores do passaporte está sendo construída para ser um “lugar de apoio” para as empresas que o utilizarem, e não prevê a integração de outras fontes de informações. O desejo do setor, no entanto, é que o sistema tenha ampla adesão.

“Se essa aplicação realmente se consolidar, a ideia das empresas envolvidas é que isso possa se transformar no futuro em uma ferramenta que possa ser entregue ao poder público, até mesmo como um legado no enfrentamento de novas situações de epidemia”, diz Gallindo.

RIGOR

Entre os primeiros candidatos que poderão aderir ao piloto do sistema estão os mais de 650 mil trabalhadores do setor de software e serviços, além de mais de 200 mil da área de telecomunicações e cerca de 100 mil no segmento industrial. Porém, existe um processo a seguir antes que o app comece a ser utilizado.

“Teremos uma prova de conceito e a entrada em serviço [da ferramenta] será faseada, para só então entrar em produção de forma massiva”, diz Gallindo. “Todo mundo tem pressa de superar a pandemia, mas estamos lidando com um assunto delicado, que é a saúde, e precisamos fazer isso com rigor.

O data lake onde transitarão os dados, bem como o aplicativo, estão sendo desenvolvidos em conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), segundo o presidente da Brasscom. A lei, prevista para agosto deste ano, tem grandes chances de ser adiada para janeiro de 2021 – A ENTREVISTA FOI CONCEDIDA ANTES DA PUBLICAÇÃO DA MP 959 – por conta da disrupção causada pela crise e pela ausência da Autoridade Nacional de Proteção de Dados, cujos membros ainda precisam ser nomeados pelo Executivo.

Medida Provisória Nº 959, de 29 de abril adia a Lei Geral de Proteção de Dados para 2021

“Existe aqui uma responsabilidade perante a lei de proteção de dados pessoais, embora ela não esteja ainda em vigência, pois estamos trabalhando com dados sensíveis, o que pressupõe o [consentimento] do próprio funcionário dessa empresa e dos próprios indivíduos, afinal são os dados pessoais deles”, ressalta Gallindo, enfatizando que a Brasscom não está se posicionando sobre políticas públicas a respeito do distanciamento social.

“O que nós estamos fazendo é uma ferramenta para assistir as empresas nesse processo, permitindo que ele seja conduzido com tecnologia e que também seja feito com um alto grau de acurácia em termos de [determinar a] condição dos nossos trabalhadores”, aponta. “E quiçá essa ferramenta possa ser adotada não só pelos nossos setores produtivos, mas por outras empresas, e ajude o Brasil na retomada, quando assim for o seu tempo.”

A Brasscom tem sido “extremamente propositiva” em seu trabalho junto ao poder público nos últimos anos, segundo Gallindo. O executivo ressalta a boa interlocução entre a associação com o governo federal, que “cada vez mais, entende a importância [das empresas] da tecnologia da informação e comunicação e a importância desse setor na conquista de um Brasil antenado com a era digital.”

TESTES

Uma condição para que o passaporte funcione de fato é a testagem de maneira ampla e frequente. O Brasil, até o momento, tem tido dificuldade em garantir estas condições, apesar de empresas como a Hi Technologies, startup da Positivo, terem anunciado intenções de disponibilidade massiva de testes no país.

Laércio Cosentino,  vice-presidente do Conselho da Brasscom e da Totvs

Laércio Cosentino, vice-presidente do Conselho da Brasscom e da Totvs, empresa brasileira de software da qual é fundador, adianta que o Brasil em breve “terá algumas novidades positivas” nesse sentido. Cosentino é um dos investidores da Mendelics, laboratório de análise genômica que utiliza tecnologias como inteligência artificial em seus testes.

“Estamos trabalhando duro para conseguir trazer testes mais acessíveis, rápidos e em uma quantidade maior”, aponta.

O Passaporte da Saúde é um dos projetos dos grupos de trabalho da Brasscom para o enfrentamento do coronavírus e inclui iniciativas como um sistema de triagem à distância com Big Data em parceria com a prefeitura de Florianópolis e um projeto de “cesta básica digital” para garantir a educação remota em tempos de pandemia.

Ainda não existem evidências de que a infecção pelo coronavírus protege pessoas contra uma possível reincidência, porém iniciativas em outros países que utilizam aplicativos como forma de demonstrar o status de indivíduos em relação à Covid-19 tem sido descritas como “passaportes de imunidade”.

Um relatório técnico publicado pela Organização Mundial da Saúde na última sexta-feira (24) nota que anticorpos podem não indicar proteção e, portanto, o uso de tais ferramentas pode aumentar riscos de transmissão continuada.

Fonte:  Forbes Insider via Brasscom

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