A próxima guerra mundial será “entre grandes hackers”
9 de abril de 2019O neurocientista, Moran Cerf, vem trabalhando na prevenção de ataques cibernéticos para o governo de Israel há uma década, e prevê que a próxima guerra mundial esteja entre os grandes hackers, disse ele à agência de notícias Lusa
O especialista franco-israelita, que fez uma palestra na 10ª edição da TEDx Porto sobre até que ponto o ser humano deve confiar em seu cérebro. “Nunca ouviu falar de Rui Pinto”, o hacker português que se encontra detido pelas autoridades, mas de uma coisa afirmou ter certeza: “Os hackers movem-se por interesses particulares”.
“O que começou com uma atividade de jovens querendo melhorar suas pontuações em jogos de computador, acabou tornado-se em uma arma, não aquelas usadas pelos países bélicos, mas sim, a que recorre para interesses particulares”, disse Cerf.
Enfatizando que, para ser um bom hacker, “você precisa ter muita atenção aos detalhes e não apenas o que vê”, ele comparou essa atividade à dos cientistas.
Tendo trabalhado por quase dez anos para o governo israelense, primeiro para os militares e depois para uma empresa estatal na prevenção de ataques cibernéticos, Moran Cerf descobriu “muitas semelhanças entre os ataques de computador e a compreensão do cérebro”.
A partir deste estudo, ele extraiu que “os computadores são impossíveis de serem parados”, entendendo, portanto, que “tê-los conectados ao cérebro é uma forma de garantir que ele não se transforme em uma guerra, mas em uma colaboração”, porque “não está claro que os humanos venceriam”.
E de um novo mundo que “carece de legislação” para acompanhar a nova realidade, ele deu como exemplo um eventual ataque cibernético a Portugal pela Espanha para explicar o que resta a fazer.
“Se a Espanha atacasse Portugal com um míssil, o governo português responderia da mesma maneira. No entanto, se a Espanha fizer um ataque de computador a uma instalação portuguesa e durante dois dias a população não tiver comida, não é óbvio ser”, argumentou Moran Cerf.
“A Coreia do Norte fez vários ataques de computador aos EUA, e eles, mesmo sabendo onde o ataque começou, simplesmente disseram para pará-lo. É uma questão que não é legislada. Não está definido que tipo de resposta, internacionalmente aceito, pode avançar como resultado desses ataques”, continuou Moran.
Deixando cenários de guerra para uma vida diária cada vez mais próxima, o especialista deixou outro aviso quando citou carros não tripulados: “Se houver um acidente em um carro com motorista, sabemos quem culpar, mas se acontecer em um carro dirigido por um computador, vamos culpar quem ou o quê?”.
“Ninguém sabe a extensão do dano”
Nos Estados Unidos, um estudioso dessas questões e muitas palestras, “ninguém sabe exatamente a extensão dos danos causados por ataques a computadores, mas os governos dos maiores países coletam informações”.
“Há seis países com hackers ativos – Rússia, China, Coreia do Norte, Irã, Estados Unidos e Israel – que estão tentando combater ataques cibernéticos maciços. Aqui não há bom ou ruim, todo mundo faz o mesmo e a história vai julgá-los por isso”, revelou.
Perguntado pela Lusa se neste cenário a segurança nada mais é do que uma ilusão para o cidadão comum, ele admitiu, mas foi des-dramatizando.
“A verdade é que ainda não tivemos um exemplo de uma destruição em massa causada por um ataque de computador. Alguns anos atrás, a Sony Studios em Hollywood foi atacada, mas isso foi por dinheiro, nada muito dramático. Então foi a Apple reclamando que um A empresa chinesa roubou segredos comerciais, isto é, novamente dinheiro”, lembrou o especialista.
“Na França, nos Estados Unidos e na Alemanha, hackers para fins políticos já foram vistos, o que é um pouco mais sério, mas ainda não vimos uma guerra”, acrescentou ele antes de avançar com uma previsão.
“Durante o período de nossas vidas a próxima guerra não será como a Primeira Guerra Mundial ou a Segunda Guerra Mundial, disputada com armas, mas talvez porque alguém, por exemplo, pressionasse uma chave e cortasse a energia elétrica para um hospital ou causasse a explosão. de um reator nuclear, e quando isso acontecer, finalmente teremos toda a noção de quão sério é um ataque cibernético. Será uma guerra entre os grandes hackers”, disse ele.
Fonte: ZAP.aeiou